A maioria das pessoas já sabe “de cor e salteado” os vários porquês da importância da leitura. Mas, o principal questionamento é: de que forma lemos e que leitura fazemos?
Por isso, o mestre de Linguagens da Rede de Ensino APOGEU, Charles Dias, explica quatro medidas que devem ser adotadas para fazer com que o hábito de leitura se torne importante e positivo na vida dos alunos.
E não se esqueça: essas dicas podem fazer toda diferença, principalmente no ENEM! Confira:
A leitura em tempos de cólera
O amor e a morte sempre trouxeram questionamentos às nossas vidas. Ele, por não se medir em palavras, por ser inconstante e jovial, por pedir cumplicidade, por se acreditar único. Ela, por sua característica dubiedade: é certa para todos, é incerta quanto ao “como” e ao “quando” vai chegar.
Amor e morte, eu diria, são os grandes temas da literatura universal e, por isso, ler sobre eles se faz tão necessário; afinal, não saberemos nunca dizer se “isso é amor” ou “como será o dia da morte” e é através da leitura que dividimos nossas experiências. O jovem costuma sofrer muito com estes três – o amor, a morte, a leitura.
Acredito que o amor seja um sentimento fraternal e mediador das relações sociais. Ama-se o velho, o novo, o que se parece. Ama-se o colega, a mãe, o pai, hambúrguer e cachorros. Ama-se determinada matéria na escola, o outro que divide comigo a rua, a atividade política de Elza Soares. Ama-se Juiz de Fora, Israel e Alemanha.
Já a morte está entre aquelas coisas que nos igualam. Morre-se de tédio, de raiva, de fome. Morremos quando não nos sentimos úteis: a nós mesmos ou à vida. Morremos cotidianamente na ausência de tempo ou pelo menos na ausência de um tempo só pra nós. Morremos na rotina e quando não respeitam nossos sonhos, nossas fraquezas.
E a leitura? Morre-se de amor e de ódio por ter que ler. A leitura dos jovens muitas vezes é vista como pouco profícua. Há os que dizem que eles não leem e, assim, generalizam subentendidos. Há os que querem obrigá-los a ler “para escrever direito”, os que querem persuadi-los de que quantidade de leitura é sinônimo de boa escrita. Entretanto, há muitos debates acerca dessa ideia e, apesar de não ser o foco deste texto, é necessário dizer o óbvio: lemos o tempo inteiro.
Nunca se leu tanto como no agora. A questão é “de que forma lemos e que leituras fazemos”? Acredito na leitura e em seu potencial positivo de ajuda às alunas e aos alunos se ela for feita com base em quatro princípios:
Em primeiro lugar, há a leitura elementar: sem nos envolvermos com o texto, somos capazes de identificar seu assunto. Depois, em segundo plano, uma leitura exame: analisamos as frases, entendemos os contextos. Por terceiro, uma leitura analítica: que se diferencia da de exame por buscarmos objetivos comunicativos de quem fez o texto, os seus elementos estruturais mais amplos, como o gênero textual em ocasião e, por fim, uma leitura reflexiva, através da qual comparamos leituras em práticas intertextuais e formamos nossa opinião.
Esse não é um modelo fascinante, concordo. Nem é meu: importante dizer que os norte-americanos Mortimer Adler e o Charles Von Doren já, entre tantos outros, teorizaram sobre esses princípios. Mas ler é sair na frente, e o treino de leitura com base nesses princípios é uma forma de começar.
Já que o Enem está aí e temos de nos preparar para ele, que tal ver a leitura como amor e não como morte do nosso tempo?
1 – Faça o hábito antes que ele te faça:
Como assim? Ué, já ouviu este ditado popular “Primeiro fazemos os hábitos e depois eles nos fazem”? Não? É mais ou menos assim: você talvez nem perceba, mas criou o hábito de ser ríspida com alguém. Depois saem falando por aí que você é grosseira. É… A vida tem dessas coisas.
Criar o hábito de leitura é um bom mecanismo inicial. Leia no celular. No site “Domínio Público”, você encontra muitos arquivos gratuitos para download. Tem Machado de Assis, por exemplo. Você lê enquanto de desloca no ônibus e naqueles intervalos entre uma coisa e outra. Você pode, por exemplo, curtir as páginas referências que suas professoras e seus professores te indicam e ler os “resumos” que aparecerão em sua timeline no Facebook. Faço isso com o Instituto Akatu, por exemplo, e tenho informação diária sobre consumo consciente e desenvolvimento sustentável. Leia seções de política e sociedade nos vários jornais e revistas pelos aplicativos! Já que a gente não tem tempo, é uma boa forma de se manter informado sobre as atualidades.
2 – Leia antes de dormir:
O Nexo Jornal divulgou uma matéria com seguinte resumo: “Um estudo de 2009, realizado pela Universidade de Sussex, no Reino Unido, sugere ainda que essa prática pode reduzir o nível de tensão em até 68% antes do sono.” Ler antes de dormir é aproveitar aqueles vinte minutos que rolamos na cama para o prazer, a informação, o aprendizado – ou tudo isso junto – e ajudar a diminuir as tensões do cotidiano. Sabe aquela sensação de um dia útil? Pois é. Ler antes de dormir pode relaxar.
3 – Leia o que o outro está lendo:
As dicas dos profissionais da sala de aula sempre ajudam. Aquela reportagem de três páginas, aquele site de propagandas, aquela seleção poética do Modernismo, aqueles gráficos do IBGE, aquelas tirinhas de Quino, aquelas canções do Chico, enfim, aquilo que os professores e as professoras passam é o que há de mais importante para eles e, tenham certeza, é o que há de mais bem selecionado para vocês.
4 – Crie metas semanais:
Atenção: não é para virar máquina programada não, hein? É para pensar: “na terça-feira, eu fico esperando uns vinte minutos até a minha mãe me buscar. Dá pra ler as notícias do senado; na sexta-feira não tem natação, posso dedicar a um romance”. Tente. Se não der certo, troque. Leia em voz alta ou leia em silêncio; veja o que te traz mais prazer, mais compreensão. O importante é criar objetivos de leitura.
Todos sabemos que você aprende indo a um museu, vendo um documentário, dando uma paradinha em frente à banca de jornal, mas tudo isso vem como aprendizado se analisarmos e refletirmos. Ler é um processo de amor pelo mundo, que morre aos nossos olhos. A leitura crítica é o que precisamos para conhecer mais, na comparação, no debate e no respeito ao outro.
Chegar ao Enem e dar de cara com um texto ou temática já lidos é muito bom! A gente se sente mais segura quando vê que transpor “as misérias minúsculas de cada dia” é necessário, quando sabemos de que se está falando. Todas as coisas do mundo continuam a valer e, mesmo que nos recordemos pouco daquilo que lemos, toda leitura deixa, como disse Ítalo Calvino, uma semente.
Em tempos de cólera, tempos em que nos irritamos com tudo, o amor pela leitura é uma forma de compreender o mundo e não esperar sentada pelo florescimento da semente. É fazê-la germinar em benefício próprio e em aceitação do outro, já que a palavra e a imagem formam a nossa base de significação no mundo.